quinta-feira, 31 de maio de 2012

Bibliotecas devem ter livros eróticos?





Fonte: Época. Data: 29/05/2012.

Autora: Margarida Telles

URL: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/05/29/bibliotecas-devem-ter-livros-eroticos/

Você já ouviu falar de “Fifty Shades of Grey”, o primeiro livro da trilogia escrita por E.L. James? Graças ao seu teor “caliente”, ele ganhou o apelido de “Crepúsculo para adultos”. A história do envolvimento de uma estudante com um empresário adepto do sadomasoquismo conquistou mulheres de todas as idades e fez a obra liderar a lista de livros digitais mais vendidos. Mas a maior polêmica sobre “Fifty Shades of Grey” foi a sua expulsão do catálogo de algumas bibliotecas.
m Brevard County , na Flórida, as bibliotecas públicas decidiram retirar os exemplares do livro de circulação. Os responsáveis afirmaram que não aceitavam pornografia em suas prateleiras. Quando questionados sobre terem obras como o “Kama Sutra” e “Trópico de Câncer”, justificaram que estes são “clássicos”.
A proibição gerou protestos, tanto dos fãs do livro como dos defensores da liberdade de expressão. Uma petição pública pedia a volta do livro, alegando que banir obras é inconstitucional, independente de seu conteúdo. “Não há espaço nas prateleiras das bibliotecas para a censura”, disse a Fundação Americana pela defesa das liberdades civis. Ontem, as manifestações surtiram efeito. As autoridades de Brevard County voltaram atrás, e decidiram colocar novamente “Fifty Shades of Grey” em seu catálogo.
Ainda não li o best seller, embora tenha bastante curiosidade. Dizem que o livro é ruim, em termos de escrita. Linguagem pobre, chavões, o pacote completo. Mas quando ele for editado no Brasil, espero que vá para as nossas bibliotecas. Me lembro do dia em que aluguei o “Trópico de Câncer”, de Henry Miller, na biblioteca da minha antiga faculdade – uma instituição católica.  Não gostei do livro, mas adorei ter constatado isso por conta própria, ao explorar as suas páginas.
Na minha opinião, censura é algo extremamente perigoso. Remete à ditadura, massificação, falta de autonomia civil e prepotência por parte do censurador. O livro é uma porcaria? Então deixe as pessoas decidirem. Como leitores, temos o direito de escolher se queremos ou não ler coisas ruins. Li a saga Crepúsculo inteirinha, achei péssimo em termos de literatura e mesmo assim adorei. Não vejo a hora de fazer o mesmo com “Fifty Shades of Grey”.

1 Comentários:

André Porto Ancona Lopez on 01 junho, 2012 disse...

Se eu estiver errado, espero que o Prof. Murilo Cunha, como bom bibliotecário que é, me corrija. Até onde sei as bibliotecas são seletivas; isto é: nunca buscam trazer TUDO o que foi publicado, porém determinam seu acervo em função da especialização de seu público. Certamente a literatura erótica, de boa ou má qualidade, não deverá fazer parte de uma biblioteca, por exemplo, de asstrofísica, mas poderia, perfeitamente, estar em uma biblioteca universitária geral (serviria aos estudos de literatura, de sociologia, psicologia etc.). Do mesmo modo, seria perfeitamente aceitável estar um uma biblioteca voltada para o lazer do cidadão comum, como me parece ser o caso da biblioteca em questão. O que talvez mereça alguma análise seria avaliar até que ponto o investimento da instituição naquela obra (custo de aquisição + processamento) justificam sua inclusão no acervo. Mas isso deve ser feito para tudo o que a biblioteca se dispõe a ter.

O veto a livros por motivos estéticos, estilísticos, religiosos, ideológicos, políticos e morais apenas obscurece o saber. Uma obra fundamental para entender o século XX é o livro-manisfesto Mein Kampf. Pela linha de raciocínio do veto à literatura erótica poderia ser dito que as instituições não podem ter a obra de Hitler (ou de Stalin, para agradar a todos os extremos políticos) porque estariam assinando concordância com aqueles postulados ideológicos.

A queima de livros ao longo da história sempre foi nefasta para a humanidade. Proibir um livro de ter seu espaço em uma biblioteca pública é agir do mesmo modo. É o mesmo tipo de raciocínio que há muito pouco tempo tentou vetar Monteiro Lobato, se a redação não fosse adequada aos valores morais vigentes em nossa sociedade.

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