Quem quiser conhecer melhor esta ciência, tem que recuar no tempo, para poder discernir os seus primeiros passos. Antes dos finais do século XIX, altura em que surge o termo «information science»[1], não há referências específicas a esta designação. A ciência da informação tem ligações ou raízes a outras disciplinas que, desde há muitos séculos, se começaram a afirmar como tal. Assim sendo, com o advento da Imprensa, o aumento gradual do fluxo de informação, o humanismo, o aumento exponencial da burocracia na administração pública, a centralização dos arquivos e a abertura das primeiras bibliotecas públicas, deu azo a algumas práticas empíricas na organização das bibliotecas e dos arquivos. Outro contributo importante deve-se ao surgimento dos princípios da bibliografia científica, no século XVI, cujo percursor foi Konrad Gesner.
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Em 1891, o belga Otlet e outros publicaram o «Sommaire périodique dês revues de droit»[2], após a qual, ele próprio expõe a sua preocupação pela qualidade ao invés da quantidade das publicações que eram referenciadas nos catálogos bibliográficos. Em 1892, Paul Otlet e Henri La Fontaine unem esforços no sentido de criar o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), cujo objectivo principal era o de reunir toda a informação registada. O que estava em causa não era o suporte, mas sim a informação, daí que se possa falar na emergência de uma nova área a romper com as vigentes, que veio a designar-se por "Documentação". Esta tornou-se uma noção com características intrínsecas, convergindo o seu «âmbito à organização e tratamento de registos informativos em diversos suportes, necessários, sobretudo, à investigação científica e técnica»[3]. O crescente interesse por esta nova área, levou à criação do American Documentation Institute (ADI), cuja missão era a de tornar acessível a informação de índole científica. Na opinião de López Yepes, a Documentação é uma «"ciência do documento", ciência geral, auxiliar de todas as demais e que lhes impõe as suas normas desde o momento em que eles transmitem seus resultados sob a forma de documentos»[4].
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A partir da 2ª Guerra Mundial, com o grande desenvolvimento tecnológico, a explosão da informação – nomeadamente o "boom" da informação científico-técnica vai dar origem a novos centros de documentação. Em 1958, após a International Conference on Scientific Information que decorreu em Washington, dá-se início a uma nova era, pois é a partir desta data que alguns autores se referem a esta conferência como o acontecimento que marca a metamorfose da documentação em ciência da informação. Em 1962, a surge esta expressão no título de uma reunião internacional denominada de Second International Congress on Information System Sciences, realizado em Hot Springs (Virgínia). A meados da década de 60, a expressão estava definitivamente implantada nos E.U.A., acabando por ser o país onde esta área se desenvolveu mais rápido. Devido ao seu estudo aprofundado, tornou-se constante o surgimento de propostas de definição, além de uma tentativa de fundamentação teórica desta área disciplinar. Em 1966, surge a revista Annual Review of Information Science and Technology e, dois anos depois, o ADI muda o seu nome para American Society for Information Science (ASIS).
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Do ponto de vista profissional também se reconhecem os antigos documentalistas como profissionais da information science. Cada vez, são mais as definições que tentam aperfeiçoar e descrever a essência desta nova área. Nas conferências do Geórgia Institute of Technology, realizadas em Outubro de 1961 e Abril de 1962, vai sair uma definição que ainda hoje se mantém consensual. Assim sendo: «Ciência da Informação é a que investiga as propriedades e comportamento da informação, as forças que regem o fluxo da informação e os meios de processamento da informação para um máximo de acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, disseminação, colecta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso da informação. O campo deriva ou relaciona-se com a matemática, a lógica, a linguística, a psicologia, a tecnologia computacional, as operações de pesquisa, as artes gráficas, as comunicações, a biblioteconomia, a gestão e alguns outros campos»[5].
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Em 1968, Harold Borko, num artigo intitulado de Information Science – What is it?, reformula a definição que saíra das conferências de 1961-62, com a qual se identifica, mas indo mais além, descrevendo que a biblioteconomia e a documentação são componentes aplicadas da ciência da informação. A partir desta data ainda surgem variadas definições de diferentes autores para a ciência da informação, no entanto o debate vai começar a centrar-se sobretudo em torno do "objecto" da ciência da informação (o que é que esta ciência estuda? – Informação!) e a delimitação do seu campo científico.
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Esta questão do "objecto vs. informação", tem sido problemática, multíplice e com diferentes sentidos. Há alguns autores que defendem com muito acérrimo a ciência da "Documentação" na luta pelo campo científico, nomeadamente através da "escola espanhola" que defende esta ideia, difundindo-a pela América Latina. Os profissionais da documentação/informação, onde em Espanha é designada por Ciência da Documentação, tentam implementar esta frágil disciplina, onde as suas maiores dificuldades surgem de «su carácter de metadisciplina o de interdisciplina, pues presta su apoyo a otras ciencias además de transcenderlas para desarrollarse como ciencia propria, além de que esta pretensa ciência no tiene un objeto en exclusividad; da igual que pensemos en el documento o en la información: nuestra ciência se ocupa de algunos de sus aspectos, no de todos»[6] segundo a autora Blanca Rodríguez Bravo[7]. Nos E.U.A. existem facções ou grupos de profissionais que defendem que a ciência da informação está englobada na ciência da comunicação.
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No entanto, esta mudança prende-se com a seguinte diferença – uma coisa é usar a informação, outra coisa, é estudar e investigar a "informação".
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Terminando, deixo apenas uma pequena citação para reflectir:
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«o objecto de estudo da Ciência da Informação – a Informação – flutua entre sombra e luz, na complexidade não somente do seu processo de criação, mas na sua passagem para o conhecimento e, sobretudo, num processo histórico mais amplo e não menos complexo, de profundas e radicais transformações da sociedade da informação ou da tecnocultura.»[8]
--[1] SILVA, Armando Malheiro da [et. al.] – Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação. Porto: Edições Afrontamento, cop. 1998. (Biblioteca das Ciências do Homem. Plural; 2). ISBN: 972-36-0483-3. p. 27.
[2] ROBREDO, Jaime – Da ciência da informação revisitada: aos sistemas humanos de informação. Brasília: Thesaurus; SSRR Informações, 2003. p. 40
[3] SILVA, Armando Malheiro da [et. al.] – Arquivística: teoria e prática... Ob. Cit. p. 28.
[4] LÓPEZ YEPES, José – La Documentación como disciplina: teoria e historia. 2ª ed. actualizada y ampliada. Pamplona: Ediciones Universidade de Navarra, 1995. ISBN: 84-313-1328-5. p. 80.
[5] RIBEIRO, Fernanda e SILVA, Armando Malheiro da - Das "ciências" documentais à ciência da informação : ensaio epistemológico para um novo modelo curricular. Porto: Edições Afron-tamento, 2002. ISBN: 972-36-0622-4. p. 53.
[6] SILVA, Armando Malheiro da – Documentação e Informação: as questões ontológica e epistemológica. [s.l.: s.n., s.d.] p. 3-4.
[7] Sobre este aspecto, ver: RODRÍGUEZ BRAVO, Blanca – El documento: entre la tradición y la renovación. Gijón: Ediciones Trea, S.L., 2002.
[8] Ciência da Informação, Ciências Sociais e Interdisciplinaridade. Org. de Lena Vania Ribeiro Pinheiro; pref. de Gilda Maria Braga. Brasília; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1999. p. 178.
[8] Ciência da Informação, Ciências Sociais e Interdisciplinaridade. Org. de Lena Vania Ribeiro Pinheiro; pref. de Gilda Maria Braga. Brasília; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1999. p. 178.
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