Fonte: O Estado de S. Paulo. Data: 17/3/2010.
URL: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100317/not_imp525296,0.php
Fonte original: The New York Times. Autora: Patricia Cohen.
Em meio ao material de arquivo de Salman Rushdie em exposição na 
Universidade Emory, em Atlanta, há capas ilustradas de seus livros, 
diários escritos à mão e quatro computadores Apple (um deles arruinado 
por um incidente com uma coca-cola). Os 18 gigabytes de dados contidos 
neles parecem prometer aos futuros biógrafos e estudiosos de literatura 
um verdadeiro país das maravilhas digital: vastos arquivos organizados 
que podem ser facilmente pesquisados em poucos cliques.
Mas, como a maioria dos paraísos rushdieanos, esse idílio digital tem 
seu próprio conjunto de problemas. Como as bibliotecas e os arquivos de 
pesquisa estão descobrindo, o material "nascido digital" - criado 
inicialmente no formato eletrônico - é muito mais difícil e caro de ser 
preservado do que se supunha.
Rascunhos, correspondência e comentários editoriais produzidos 
eletronicamente, com os quais poetas contemporâneos, romancistas e 
autores de não-ficção parecem se preocupar tanto, são apenas uma série 
de dígitos - os binários 0 e 1 - gravados em disquetes, CDs e discos 
rígidos, que se estragam muito mais rápido do que o papel. Mesmo que 
essas mídias de armazenamento sobrevivam, o implacável avanço da 
tecnologia pode significar que equipamentos e softwares mais antigos 
deixem de existir. Imagine ter um disco de vinil, mas nenhuma vitrola.
A luta contra a extinção digital passa por perguntas difíceis: como 
definir o que deve ser preservado, como deve ser essa preservação, e 
como tornar esse material disponível? "Não há dúvida de que essas 
questões têm tirado o sono de muita gente", disse Anne Van Camp, 
diretora dos Arquivos da Instituição Smithsonian e membro de uma 
força-tarefa que estuda os aspectos econômicos da preservação digital.
Metodologia. Apesar de os computadores serem usados cotidianamente há 
duas décadas, os arquivos de escritores estão apenas começando a chegar 
aos acervos. Na semana passada, o Centro Harry Ransom, da Universidade 
do Texas, de Austin, anunciou a compra do arquivo de David Foster 
Wallace, que cometeu suicídio em 2008. A Emory montou em fevereiro uma 
exposição com seu acervo de Rushdie e, no ano passado, pouco antes de 
morrer, John Updike enviou 50 disquetes de 5,25 polegadas à Biblioteca 
Houghton, em Harvard.
Leslie Morris, curadora da Biblioteca Houghton, disse, "Ainda não 
desenvolvemos uma metodologia" para processar esse material. 
"Armazenamos os disquetes em nossa seção climatizada, e torcemos para 
que Harvard defina logo alguns procedimentos universais."
Entre os desafios estão a contratação de arquivistas familiarizados com 
a informática; a aquisição do equipamento e da experiência necessários 
para decifrar, transferir e obter acesso aos dados armazenados em 
formatos tecnológicos obsoletos; o desenvolvimento de um sistema de 
proteção contra alterações e apagamento acidentais; e a definição de 
como organizar o acesso de forma a torná-lo mais útil.
Na Biblioteca Emory, os computadores de Rushdie confrontaram os 
arquivistas com um dilema: apenas copiar o conteúdo dos arquivos ou 
tentar também recuperar a aparência e a organização dele.
Por causa do interesse especial da Emory no impacto da tecnologia no 
processo criativo, a diretora interina do Acervo de Arquivos Manuscritos 
e Livros Raros, Naomi Nelson, disse que os arquivistas decidiram recriar 
a experiência e o ambiente eletrônico original.
Na exposição, visitantes podem acessar um computador e ver exatamente a 
mesma tela para a qual Rushdie olhava, realizar buscas nos arquivos dele 
assim como o autor fazia, e descobrir quais os aplicativos que ele 
costumava usar. "Não conheço nenhum outro lugar no mundo onde seja 
possível acessar por meio da emulação um acervo nascido digital", diz 
Erika Farr, diretora da Biblioteca Robert W. Woodruff, em Emory.
sábado, 27 de março de 2010
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2 Comentários:
Esse é um post que me anima e mais uma vez prova que as ditas tecnologias "obsoletas" e as mais avaçadas devem andar lado a lado. Além de ser mais caro de se armazenar as informaçãos digitais são muito mais fáceis de se perder, de se dissipar e não mais se encontrar nesse vasto universo de informação que apenas em um pen drive podemos encontrar. Uma ótima questão levantada. Parabéns professor Hamilton!
Eduardo:
Obrigado pela sua mensagem. O livro impresso ainda tem um importante papel a exercer. Entretanto, é inegável o crescimento do livro eletrônico ou digital. Creio que dentro de uns anos já estará resolvida a padronização dos leitores desse tipo de livro. A partir daí o crescimento dessa nova tecnologia será irreversível! Mas não vejo a "morte" do livro impresso, acho que os dois formatos irão coexistir no mercado.
Murilo Cunha
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