sábado, 21 de março de 2009

Classificação dos periódicos em Humanidades




Fontes: Revista Pesquisa FAPESP, artigo: Não à hierarquia, Edição Impressa 157 - Março 2009 e URL da Capes:http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-noticias/2550-capes-aprova-a-nova-classificacao-do-qualis


Editores europeus de revistas acadêmicas de disciplinas ligadas às humanidades insurgiram-se contra uma tentativa de enquadrá-los em critérios consagrados na avaliação das ciências e engenharias.
Um manifesto conjunto assinado pelos responsáveis por 61 periódicos foi proposto um boicote ao European Reference Index for the Humanities (ERIH), um índice criado pela European Science Foundation que pretendia graduar cerca de 12 mil publicações do velho continente em três categorias, de acordo com seu impacto e disseminação: A (alto nível internacional), B (nível internacional padrão) e C (publicações de importância regional).
Critério semelhante é usado no Brasil para valorizar periódicos na produção intelectual da pós-graduação. O Qualis, da CAPES/Ministério da Educação, é fruto do conjunto de procedimentos utilizados para estratificação da qualidade dessa produção. O Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos e anais de eventos.
A classificação da CAPES de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e os periódicos são enquadrados em indicativos da qualidade como: A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C - com peso zero.
Segundo a revista Social Studies of Sciences, a adoção de um índice de classificação europeu é imprópria por dois grandes motivos. Um deles seria a baixa representatividade acadêmica dos que seriam encarregados de classificar os jornais. A segunda e mais importante é que os periódicos em ciências humanas e sociais são diversos, heterogêneos e distintos como o é o objeto de seu estudo e seus diferentes contextos. Alguns se dirigem a conjuntos amplos, gerais e internacionais de leitores, outros são mais especializados em seus conteúdos e audiência implícita.
Confunde-se internacionalidade com qualidade de uma forma particularmente prejudicial para periódicos publicados em outras línguas que não o inglês, diz o editorial assinado pelos editores das 61 publicações europeias.
Iniciativas de classificar a qualidade de periódicos podem tornar-se profecias autorrealizáveis. Se forem adotadas como base para as decisões de agências de financiamento, muitos pesquisadores concluirão ter pouca escolha e limitar suas publicações, unicamente, a periódicos da primeira divisão. Existirão menos periódicos, com muito menor diversidade, empobrecendo assim nossas disciplinas.
O modelo prejudicaria também os jornais de nível A, ao inundar as mesas dos editores com um número desproporcional de submissões de artigos. Entre os pesquisadores das humanidades da Europa é persistente uma visão segundo a qual os critérios bibliométricos, como números de artigos e citações, não são seguros para atestar a qualidade e a validade da produção acadêmica de um periódico.
O texto, europeu, assinado pelos 61 editores deixa transparecer essa desconfiança, ao falar de uma “contabilidade supostamente precisa” ou dizer que o modelo de atribuição de valor qualitativo baseia-se numa incompreensão fundamental da conduta e da publicação da pesquisa nas humanidades em geral.

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