segunda-feira, 10 de abril de 2006

Difusão Cultural na Internet




Autor: Beatriz Coelho Silva Fonte: O Estado de S. Paulo
Link: http://www.estado.com.br/editorias/2006/04/10/cad87347.xml
Data: 10 abril 2006
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A difusão de livros na internet vai provocar uma revolução semelhante à invenção da imprensa, mas é preciso estar atento para evitar que se torne monopólio de países ou empresas e que sufoque a diversidade cultural que se anuncia neste século 21. Essa é, em resumo, a idéia defendida pelo diretor da Biblioteca Nacional da França Jean-Nõel Jeanneney, que esteve no Rio na semana passada para participar do Colóquio de Bibliotecas Digitais, na Maison de France. Ele veio também lançar o livro "Quando o Google Desafia a Europa: Em Defesa de uma Reação", uma resposta à promessa do site de buscas de digitalizar e colocar na rede mundial 7 milhões de títulos até 2010.

"O livro foi conseqüência de um artigo que escrevi no Le Monde no início de 2005, logo após o anúncio do Google. É claro que é bom ter acesso à informação, mas é preciso que seu controle não fique só com uma empresa, que seu financiamento não se dê só pela publicidade e que essa grande quantidade de informação seja ordenada", afirma Jeanneney, que é historiador, foi diretor da Rádio France e assumiu a Biblioteca Nacional de lá há quatro anos. "Não se pode deixar a cultura e a difusão da língua só nas mãos do mercado. Quem é a favor dessa liberdade absoluta acha que tudo se resolverá se não houver controle, mas posso afirmar, como historiador, que não é isso que acontece."

Jeanneney lembrou que a invenção da imprensa, no século 15, ao mesmo tempo em que democratizou o conhecimento, até então guardado nos mosteiros e nas poucas universidades existentes, eliminou culturas e línguas que não tinham acesso fácil a esse meio. "É preciso evitar que isso ocorra novamente. Além disso, o Estado sempre interveio nos meios de comunicação, criando barreiras aos produtos estrangeiros ou cotas", lembrou ele. "Na internet é impossível intervir dessa forma, mas pode-se agir afirmativamente, criando ou estimulando a criação de bibliotecas virtuais e a publicação de mais e mais títulos nessa nova mídia."

Segundo Jeanneney, o anúncio do Google chamou atenção dos governos europeus para o controle da difusão cultural pela internet. "Há um consenso entre governos de que é preciso ordenar a publicação de livros na internet, uniformizar a forma de digitalização e de acesso do público e também à preservação do direito do autor, detalhe que o Google tinha esquecido." Para o diretor da Biblioteca Nacional da França, a participação da Alemanha no colóquio evidencia essa preocupação. "Acordamos para a questão em 2005, tomamos iniciativas em 2006 e teremos velocidade de cruzeiro em 2007." Por velocidade de cruzeiro ele entende a digitalização de livros e seu controle pelo Estado, mas sempre ouvindo a iniciativa privada, especialmente as grandes empresas que podem patrocinar o processo e acelerá-lo. "É preciso encontrar um equilíbrio, pois Estado e mercado devem ser parceiros nesse processo. Há consenso na Europa de que não se pode deixar a preservação das culturas nacionais e regionais nas mãos da iniciativa privada, mas esta pode ser sócia nessa empreitada.” Vi entre vocês uma preocupação com a preservação da cultura, sua difusão e o cuidado com a diversificação. O Brasil tem também muita força intelectual e econômica, apesar das desigualdades sociais. Mas a difusão de livros na internet pode contribuir para diminuir essa desigualdade, pois é sabido que a cultura é uma das ferramentas para chegar a esse resultado."

Como historiador e professor universitário, Jeanneney sempre viveu entre livros, escrevendo-os - é autor de uma história dos meios de comunicação adotada nas universidades européias, de um dicionário sobre rádio e televisão franceses, ensaios sobre Victor Hugo e Clemenceau e outros gêneros. Para ele, o livro físico é uma fonte de prazer única, não só pelo conteúdo, mas também pelo tato e até o cheiro. "Livros novos têm um odor particular, que faz parte do prazer da leitura", lembrou ele. "Hoje em dia leio tanto na tela do computador quanto o livro físico. Quando quero uma informação técnica, rápida, vou para a tela, mas se é por prazer, nada se compara ao livro de papel."

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