Em regiões do país onde os indicadores são piores, uso da rede é concentrado
Fonte: O Globo, Rio de Janeiro.
Data: 7 de agosto de 2007.
A sociedade da informação - que tornou um ativo do cidadão e do trabalhador o grau de acesso às novas tecnologias - poderá aprofundar a distância entre os mais ricos e os mais pobres no país. A constatação foi feita pelo "Mapa das Desigualdades Digitais no Brasil", elaborado pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) com o Instituto Sangari. O estudo revela que os dez estados com acesso à internet mais concentrado em poucas pessoas estão nas regiões Nordeste e Norte, que têm também os piores indicadores de desigualdade pelos critérios clássicos, como a renda.
O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, da Ritla, diz que seis dos piores desempenhos do Brasil estão no Nordeste - Alagoas, Piauí, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão - e quatro, no Norte - Pará, Tocantins, Acre e Amazonas. O Centro-Oeste, terceira região em indicadores desfavoráveis no ranking de concentração de renda, tem, por exemplo, a 11ªunidade da federação mais desigual, o Mato Grosso.
Na outra ponta, os estados com maior igualdade de oportunidades para pessoas acima de 10 anos, independentemente inclusive de raça, estão em Sul e Sudeste. O melhor desempenho é do Distrito Federal, seguido por São Paulo, Rio, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Estudo defende adoção de políticas públicas
Com essa distribuição das oportunidades, o trabalho é taxativo: o problema das desigualdades na sociedade se reproduz nas escolas.
Há no país uma estrutura de reprodução das desigualdades, um sistema que reforça a exclusão social. O grande problema é que não temos uma política de inclusão digital - disse Waiselfisz.
O pesquisador afirmou que o Brasil continua sendo um dos dez países com maior concentração de renda, o que impede a maioria da população mais pobre de comprar computador, ter uma conta telefônica e se conectar à internet. Por isso, destaca, é necessário adotar políticas públicas.
Ele defende programas como Bolsa Escola ou cota para negros nas universidades para a área de inclusão digital. É necessária a implantação, segundo o estudo, "de marcos regulatórios no campo das telecomunicações, que não discriminem áreas ou setores da população".
Waiselfisz disse que o país com maior êxito na área digital foi o Chile, o mais informatizado da América Latina. Isso foi possível por meio da implantação de políticas públicas.
O Censo Educacional do MEC, do início de 2006, apontou que existiam no país 659 mil computadores para 56,5 milhões de alunos, um índice de 1,17 computador para cada cem alunos. Na Europa, a média, também no ano passado, era de 11,4.
Em Alagoas, pior estado em oportunidades digitais, os alunos de maior renda usam a internet escolar 76,9 vezes mais que os alunos mais pobres do estado. Ao considerar apenas alunos de escolas públicas, os 50% de estudantes de maior renda usam a internet 170% mais do que os mais pobres.
Um dos objetivos do trabalho foi verificar se os centros de acesso gratuito à internet e a informatização das escolas se dirigem à população mais carente. Isso porque, segundo os dados, esses centros são mais usados por pessoas de maior renda. Em 2005, segundo o IBGE, o Brasil tinha 32 milhões de internautas, 17% da população. Cerca de 10,5% da população com 10 anos ou mais acessou a internet de casa, e só 2,1% usaram centros gratuitos. Hoje esse percentual está em 2,8%.