quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por que o brasileiro lê pouco?




Autor: Raphael Soeiro.
Fonte: Revista Superinteressante, n. 284. Data: novembro 2010.
Fiquemos com a resposta da maior autoridade no mundo, a UNESCO. Para o setor da ONU que cuida de educação e cultura, só há leitura onde: 1) ler é uma tradição nacional, 2) o hábito de ler vem de casa e 3) são formados novos leitores. O problema é antigo: muitos brasileiros foram do analfabetismo à TV sem passar na biblioteca. Para piorar, especialistas culpam a escola pela falta de leitores. ” Os professores costumam indicar clássicos do século 19, maravilhosos, mas que não são adequados a um jovem de 15 anos”, diz Zoara Failla, do Instituto Pró Livro. “Apresentado só a obras que considera chatas, ele não busca mais o livro depois que sai do colégio.” Muitos educadores defendem que o Brasil poderia adotar o esquema anglo-saxão, em que os clássicos são um pouco mais próximos, dos anos 50 e 60, e há menos livros, que são analisados a fundo. mas aí teria de mudar o vestibular, e isso já é outra história.

2 Comentários:

Cristina Cruz on 06 novembro, 2010 disse...

Infelizmente os baixos índices de leitura e literacia são também uma triste realidade em Portugal. As causas são as mesmas: falta de hábitos de leitura, famílias que não têm tempo para estar com os filhos, muito menos para ler com eles, até porque muitos deles também nunca tiveram hábitos de leitura ou já os perderam com a correria do dia-a-dia e os afazeres profissionais. Depois a escola também não ajuda muito ao apostar nos grandes clássicos da literatura portuguesa que são, de facto, importantes, mas cuja qualidade os jovens ainda não têm maturidade para apreciar. Tudo tem o seu tempo. Os jovens têm de ser conquistados gradualmente, recorrendo a livros que estejam mais próximos dos seus anseios e interesses, ainda que de «qualidade literária inferior». A leitura deve ser sentida como uma actividade agradável, gratificante, de puro prazer e não se pode esperar que um jovem tenha prazer a ler o que não compreende. A sensibilidade literária pode ser e deve ser cultivada, mas tendo sempre em atenção o grau de maturidade dos jovens. Ninguém espera que um bebé deixe de beber leite materno e comece logo a comer feijão com arroz, pois não? Terá primeiro de passar pelas papas e pela sopa e só então virão os alimentos sólidos. Com a literatura passa-se exactamente o mesmo: há todo um caminho natural a seguir. As leituras vão sendo refinadas à medida que a sensibilidade dos leitores vai sendo treinada. Felizmente há já alguns mediadores da leitura a chegar a esta conclusão e a desenvolver algumas estratégias de acordo com essa evidência. O importante é criar condições propícias à descoberta de múltiplos autores e géneros e esperar que cada individuo cresça como leitor ao seu ritmo, seja ele um jovem ou um adulto com poucos hábitos de leitura. Enquanto bibliotecária procuro seguir esse caminho em todas as actividades em que me envolvo.

Murilo Cunha on 06 novembro, 2010 disse...

Cristina:
Excelente observações! Isto demonstra que temos um longo caminho para estimular o hábito de leitura e facilitar o acesso à leitura por parte das nossas comunidades.
Murilo Cunha

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