sexta-feira, 18 de junho de 2010

Crianças precisam de proteção online




Data: 16/06/2010.
Fonte: Jornal do Commércio (PE)

Diretor da e-netsecurity e perito forense de crimes digitais, Wanderson Castilho tem dedicado grande parte de seus esforços para assegurar que crianças e jovens corram menos riscos na internet. Nesta entrevista à repórter Manuella Antunes, ele fala sobre o trabalho e os novos softwares que criou: o Guarda-Costas Virtual e o sistema de monitoramento de celular.

JC – Quando começou a voltar sua atenção para a segurança dos jovens?

WANDERSON CASTILHO – Há oito anos, trabalho com cibercrimes contra menores, mas há três meses participei de um projeto do Fantástico (programa da Rede Globo) sobre pedofilia, em que nós entramos na rede, numa sala de bate-papo normal, com a ideia de descobrir quanto demora para uma criança ou adolescente começar a ser aliciado na internet. No começo, achávamos que isso levaria tempo, mas constatamos que em 30 segundos o assédio já começa. Isso porque nós deixamos bem evidente que a pessoa teria 13 anos de idade. A rapidez foi uma surpresa mesmo para mim. Em quatro minutos, os pedófilos já pediam liberação da webcam e mostravam suas partes íntimas. Foi assustador. Um pai pode achar que o filho está seguro no quarto, mas isso nem sempre é verdade.

JC – Como é o seu trabalho?

CASTILHO – Sou perito forense em casos de cibercrime. Quando sou contratado, trabalho, normalmente, em parceria com a polícia. Faço o rastreamento dos crimes. Identifico o autor, seja ele quem for, e a partir disso é que elaboro um laudo que pode ser usado em meios judiciais.

JC – Há um padrão na forma como os aliciadores agem?

CASTILHO – Eles conhecem tudo sobre o universo infantojuvenil. Quando você conversa com um deles, realmente acredita que se trata de um adolescente. Eles sabem sobre as músicas e marcas da moda, os personagens do momento, os filmes que estão sendo exibidos. Tudo. Em geral, todos aliciadores apresentam uma compreensão muito boa sobre os hábitos de suas vítimas.

JC – Você já conseguiu resolver algum caso contra menores?

CASTILHO – Sim. Alguns. No ano passado, por exemplo, uma menina de 11 anos abriu um perfil no Orkut e colocou lá informações sobre os livros favoritos dela. Tempos depois, o suposto autor de um dos livros apareceu e começou a conversar com ela. Eles desenvolveram um relacionamento e ficaram amigos. A partir daí, surgiram conversas de cunho sexual. Ela contou para a mãe, que desconfiou e falou para o pai da garota. Ele, por sua vez, contratou meus serviços, nós registramos um boletim de ocorrência e eu descobri que não era o autor, era mesmo um pedófilo. Hoje, o acusado responde a processo.

JC – Como a lei funciona para esses casos?

CASTILHO – O Estado não está preparado nem para identificar e nem para punir esses crimes. Só quem sabe o que se passa ao reportar um caso desses é quem já precisou fazer uma denúncia.

JC – E o Guarda-Costas, como pode ajudar a solucionar esse tipo de crime?

CASTILHO – Diante de todos os riscos da web, pensei: quanto custa para um pai, hoje, contratar um segurança para o seu filho? E ele vai ficar 24 horas ao lado da criança? Não dá. Para os que contrataram o serviço, a tecnologia ajuda a controlar a vida cibernética dos filhos, onde eles estão muito vulneráveis. Eles se cadastram para usar o software, respondem a um questionário, escolhem um e-mail para receber os relatórios e pagam R$ 650 por ano para monitorar todos os acessos de um determinado computador. Não precisa nem saber lidar tão bem com tecnologia. É só clicar no link, que o sistema fornece o histórico de navegação.

JC – Alguma outra ideia para o futuro?

CASTILHO – Sim. No mês que vem, planejamos lançar um sistema de monitoramento de celular. Pagando R$ 3.500 por mês, os pais podem ter acesso a todas as conversas e trocas de torpedo dos seus filhos. Além de poder saber a localização exata do indivíduo. Esse é um sistema que funciona também para o controle empresarial. Para isso, os aparelhos precisam apenas ter acesso garantido à internet 3G.

JC – Isso não gera problemas relacionados à invasão de privacidade?

CASTILHO – Os pais são responsáveis civilmente por seus filhos até os 18 anos. Então não há invasão de privacidade. É dever cível e de educador. Já em relação às empresas, isso tem que ser feito mediante assinatura de um contrato que especifique criteriosamente o uso do aplicativo. Obviamente que para outros fins, como os passionais, é, sim, ilegal.

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