sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Preservação digital a longo prazo - parte II




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A questão da preservação digital deve ser amplamente assumida por entidades estatais, organismos com responsabilidades especiais no que concerne à preservação da memória, produtores de informação, fornecedores de tecnologia, profissionais da informação, etc. Há uma necessidade premente na definição de políticas e estratégias concertadas a um maior investimento na investigação e na formação dos profissionais. Deve de haver uma mudança de atitude nos profissionais da informação, nomeadamente, no sentido de identificar e analisar esta questão dentro das organizações onde estão inseridos, integrando equipas de trabalho pluridisciplinares, partilhando o conhecimento e as experiências auferidas no decorrer dos mesmos processos de trabalho. Só assim, é que é possível evitar alguns erros de estratégia, e adequar melhor os planos de preservação a implementar a longo prazo dentro das organizações.
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Na actualidade, a preservação digital só é verdadeiramente assumida por entidades com relativo poder económico. Metaforicamente pode-se dizer que a preservação digital é como um conjunto de ilhas dessincronizadas, que operam individualmente, pelo menos os grandes projectos, sem que haja uma entidade que assuma o verdadeiro papel de liderança para promover as conferências, trocas de experiências, fóruns, centros de pesquisa, estabelecimento de normas e padrões universais, etc. Pois só com a cooperação à escala mundial é que a preservação digital poderá ser uma realidade mais concreta, envolvendo tanto os produtores como os utilizadores dos objectos digitais.
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Portugal está agora a dar os primeiros passos nesta matéria, levando já, um relativo atraso em termos de investigação e de aplicação de estratégias. Resta-nos agora, aproveitar o resultado das diversas experiências que foram sendo desenvolvidas um pouco por todo o mundo, tomando-se as melhores opções de uma forma racional e adequada à realidade de cada projecto.
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A Biblioteca Nacional em associação com outras entidades com responsabilidade nesta matéria, devia apostar numa verdadeira estratégia de preservação a ser aplicada aos conteúdos de interesse nacional. Resta decidir onde recolher os conteúdos. O ponto de partida poderá ser o domínio “.PT”, pois este corresponde a sensivelmente 75% dos conteúdos nacionais que se encontram na Web. Mesmo a um nível concelhio, as Câmaras Municipais deviam tomar medidas como forma de preservar conteúdos digitais produzidos regionalmente, pois estes, podem ser de grande importância para a preservação da memória de uma comunidade inserida num espaço geográfico, num determinado contexto e, numa determinada fracção temporal.
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Finalizando esta análise, pode dizer-se que ainda há muito a fazer neste âmbito ou, melhor dizendo, ainda está quase tudo por fazer, pois nesta área são poucos os factos que já são, impreterivelmente, certezas supremas. Já existe algum trabalho feito, mas ainda não existe uma avaliação rigorosa sobre a situação actual à escala mundial. A UNESCO apresentou uma carta para a preservação do património digital, mas agora, só falta saber se essas mesmas indicações estão a ser seguidas pelas organizações, ou se, ela é em si mesma, uma proposta autotélica.
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Os votos de um bom fim-de-semana para todos,
Paulo Sousa

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