sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Preservação digital a longo prazo - parte I




A grande mutação tecnológica ocorrida nestas últimas décadas deixou a descoberto um grande problema que só agora é que está ser levado mais a sério. Trata-se do acesso a médio-longo prazo aos objectos digitais que são produzidos constantemente pelo ser humano. Este problema ocorre, porque o homem não consegue preservar da mesma forma um livro na estante ou este trabalho num computador. Se o livro estiver bem acondicionado e o espaço cumprir as necessidades básicas de preservação, é provável que daqui a 10 anos, o mesmo livro ainda esteja intacto e em bom estado para ser novamente consultado. Ao invés disso, este trabalho ao ser guardado num ambiente digital por 10 anos sem qualquer estratégia de preservação a longo prazo, torna o seu acesso muito mais improvável, pois o mais certo é que tanto o formato do objecto como o sistema em que o mesmo está inserido já esteja obsoleto e inacessível, perdendo-se assim, o acesso ao conteúdo do mesmo.
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Que estratégia implementar? Qual é a melhor opção a ter em conta dentro das várias estratégias de preservação a longo prazo?
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Supondo que estamos a desenvolver uma estratégia para um repositório digital, o seu desempenho só terá sucesso se forem seguidas boas práticas, assim como o uso de metadados de preservação ao longo de todas as fases do ciclo de vida do recurso digital. Uma das estratégias de preservação utilizada nos dias de hoje, é o recurso à migração de suporte, no entanto, o repositório não tem como saber o que deixa em legado, tornando-se assim impossível de prognosticar quantas vezes vai ser necessário migrar, dado que os standards também podem ter uma vida curta no ambiente digital. Este processo requer o uso de boas práticas no decorrer da criação dos objectos digitais a preservar, assim como, uma grande atenção às técnicas de reparação usadas e aos metadados que documentam todo este processo, com o objectivo de minimizar o nível de corrupção dos mesmos. Esta estratégia de preservação pode ter como pontos críticos a quantidade de trabalho, o alto custo, a quantidade de tempo que pode levar a realizar o processo, a falta de progressão e a corrupção do look-and-feel.
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A emulação é outra estratégia utilizada, contudo, este processo tem suscitado alguma polémica e tem sido motivo de discussão científica, envolvendo vários peritos da área. Na opinião de alguns, os emuladores ao ficarem obsoletos tornam-se tão problemáticos como manter os objectos digitais em formatos obsoletos.
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Mesmo que a integridade do objecto digital seja corrompida durante o processo de preservação, este facto, pode não ser relevante atendendo às necessidades dos utilizadores pois, segundo alguns estudos, o que tem mais importância é o acesso aos mesmos.
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A melhor estratégia de preservação está assim dependente de vários factores, como o custo, a investigação aplicada ao caso concreto onde se deseja aplicar a estratégia de preservação, o estabelecimento de consórcios entre entidades com objectivos similares, a coragem de arriscar na estratégia que melhor satisfaz e mais garantias dá ao caso concreto, etc. Como tal, cada instituição deve atender à natureza dos recursos e às necessidades das comunidades de utilizadores do nosso tempo, para assim, poder projectá-las para as comunidades futuras.
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Este é o exemplo de um projecto que visa o estudo da preservação digital a longo prazo:
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Projecto: ECPA (European Commission on Preservation and Access)
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Data de início: 1994
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Objectivos: Promover actividades ligadas à salvaguarda das colecções em arquivos e bibliotecas europeias e ao acesso das mesmas colecções, quer em suporte tradicional quer em suporte digital.
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Características: A ECPA é uma fundação independente cujos membros procuram, antes de mais, promover um movimento europeu concertado entre bibliotecas, arquivos e outras instituições patrimoniais para a divulgar informação sobre questões de preservação e acesso e ajudar na coordenação de actividades regionais e nacionais, nesse âmbito.
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Notas: A missão da ECPA é desenvolver a consciencialização do público, sobretudo o académico, para as necessidades de preservação e para as estratégias de acessibilidade que bibliotecas e arquivos devem de prosseguir, constituindo-se como plataforma para a discussão e a cooperação entre organizações patrimoniais, promovendo, desse modo, a troca de conhecimentos e de experiências.
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