quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Qualificação da Função Pública




Uma determinada Câmara Municipal quer admitir para o seu quadro de pessoal um Técnico Superior caracterizando o posto da seguinte forma:
Planear a gestão e direcção técnica da biblioteca; executar todas as rotinas inerentes às operações de tratamento do fundo documental tais como: registo, catalogação, indexação e cotação; gestão de catálogos, mantendo-os actualizados; assegurar serviços de atendimento ao público, apoiando e orientando o utilizador de serviços; executar pesquisas bibliográficas e rotinas de empréstimo, reservas e devoluções; supervisionar a arrumação dos fundos documentais; fazer a gestão das devoluções difíceis. Preparar instrumentos de difusão, aplicando normas de funcionamento de bibliotecas e serviços de documentação, de acordo com métodos e procedimentos previamente estabelecidos; organizar e promover estatísticas de leitura, consultas e utilização de recursos. Propor a realização de actividades de promoção da leitura, acompanhando a sua realização, após decisão superior; realizar mostras bibliográficas e outras exposições.
 Pela caracterização é óbvia a intenção da contratação, a Câmara Municipal precisa de um Bibliotecário / Profissional da Informação. Hoje, com a solidificação da Ciência da Informação, a proliferação e o aprofundamento da formação na área tornou-se uma realidade. De cursos profissionais, Licenciaturas, Pós-graduações, passando pelos Mestrados e Doutoramentos a oferta é muita e estruturada. Ora a dita Câmara Municipal ao invés de apostar na qualidade dos serviços que presta aos seu cidadãos contratando um profissional qualificado, prefere exigir como nível habilitacional uma Licenciatura na área da Sociologia e Licenciatura na área Animação Educativa e Sociocultural que em nada têm que ver com as funções descritas anteriormente. São casos como este que demonstram o quanto se tornou necessário rever o Decreto-Lei n.º 121/2008, de 11 de Julho, que reestrutura as carreiras da Administração Pública.

É no mínimo incongruente Portugal andar, neste caso, a par com a vanguarda internacional no que concerne à formação e, ao mesmo tempo, posicionar-se na cauda internacional quando toca à aplicação ao mercado de trabalho, nomeadamente da Administração Publica, dessa qualificação.

O que está em causa não é uma questão de classe profissional, é, acima de tudo, uma questão de qualidade nos serviços prestados pelos organismos públicos e essa qualidade deveria iniciar-se com a qualificação dos recursos humanos da função pública.

Petição para a Obrigatoriedade de Requisitos de Formação para a Carreira de Biblioteca e Arquivo - http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=CI2010

3 Comentários:

Maria José Vitorino on 17 dezembro, 2010 disse...

Não deixa de ser ainda curioso que para o único conteúdo funcional do edital de concurso relacionável com a formação na área da Animação Educativa e Sociocultural (hipótese apontada), "propor a realização de actividades de promoção da leitura, acompanhando a sua realização," nem sequer pode ser confiada ao técnico a contratar, pois dependerá sempre de " decisão superior" - de duz-se que o "superior" acha que sabe mais desta área? No caso da formação em Sociologia, não consigo comentar. Sentir-se-á um sociólogo, sem mais nenhuma formação, capaz de cumprir estas funções (nneste caso sem o crivo da "decisão superior", portanto ficando responsável último pela sua execução)? Ou acreditará que a Autarquia lhe vai pagar formação suplementar - uma decisão superior, uma vez que nas funções também não lhe compete gerir pessol nem desenvolver programas de formação das equipas envolvidas? O que a gente aprende só a ler um edital e a pensar! Felizmente nem todos os concurso têm sido assim, mesmo depois de sair o DL 121/2008.

Michelangelo Viana on 17 dezembro, 2010 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michelangelo Viana on 17 dezembro, 2010 disse...

No Brasil "driscretamente" as prefeituras das cidades têm feito concursos para contratar o que chama de "auxiliares de biblioteca", sem curso superior em Biblioteconomia e em nenhuma área, para atuarem nas suas bibliotecas. Exigem apenas o "ensino médio", como chamamos aqui.

Como editor do Guia sempre recebo pedidos de "apostilas" ou "links" na Internet sobre esses assuntos:

1. Bibliotecas: definição, conceito e tipos;

2. Bibliotecas públicas, escolares e a educação;

3. Planejamento, administração e organização de bibliotecas;

4. Acervo:
4.1. Planejamento;
4.2. Seleção;
4.3. Aquisição
4.4. Processamento técnico;
4.5. Armazenagem e disponibilização;

5. Circulação:
5.1. Empréstimo domiciliar;
5.2. Consulta aos documentos;
5.3. Reprodução e pesquisa ao acervo;

6. Serviços aos usuários:
6.1. Treinamento;
6.2. Orientação e referência.

Como vêem, não são e nunca serão conhecimentos que um estudante de nívem médio teria. É UM ABSURDO!

Eu sinto vergonha pela falta de atuação dos nossos Conselhos Profissionais (CRB's no Brasil), a fim de impedir quem quer que seja (o governo ou empresas) a contratar adolescentes para atuarem como profissionais da informação. Além de não valorizar a nossa profissão, isso deprecia a nossa imagem, colocando pessoas despreparadas para tratarem de um assunto tão importante.

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